quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

BOLETIM ELETRÔNICO 82


Contagem adota avaliação para candidatos a direção de escolas

Decisão inédita pretende comprovar conhecimentos específicos dos candidatos antes da eleição

Alessandra Soares
Contagem dá mais um passo na busca pelo aprimoramento e democratização da educação pública municipal. Em decisão inédita, candidatos a cargo de direção nas escolas da prefeitura agora devem comprovar conhecimentos específicos antes da disputa eleitoral. Na manhã do último sábado (21/11), quase 200 educadores que pretendem concorrer às eleições deste ano submeteram-se à Avaliação Diagnóstica, implementada pela Secretaria de Educação (Seduc). As provas foram aplicadas na Escola Municipal Pedro Pacheco de Souza, no bairro Santa Cruz.
O resultado final da avaliação será divulgado no Diário Oficial de Contagem (DOC) do dia 30/11. Os candidatos classificados na Avaliação Diagnóstica estarão aptos para a disputa eleitoral nas escolas, prevista para os dias 12 e 19 dezembro, em primeiro e segundo turno, respectivamente.
O secretário de Educação, professor Ramon, lembrou que o dirigente escolar é um profissional da gestão pública, o que justifica o aprofundamento do controle da sociedade. "A comunidade votará naqueles que demonstrarem conhecimentos técnico, pedagógico e político para o cargo e, ainda, apresentarem um plano de gestão que atenda as reais necessidades da comunidade e do seu entorno".
Ramon acrescentou que a direção exige uma série de competências sôbre a gestão de recursos, avaliação pedagógica e de desempenho, orientação de funcionários, além de conhecimento da legislação vigente no país e cumprimento de metas educacionais da unidade onde atua.
A Avaliação Diagnóstica foi elaborada a partir das principais temáticas pertinentes "ao fazer pedagógico" explicou Tereza Cristina de Oliveira, titular da Diretoria de Formação Continuada da Seduc - setor responsável pela elaboração das provas e coordenação de todo o processo, mediante apoio técnico especializado. "A avaliação vai nortear a Seduc para construção de um projeto de formação específico para aprimorar, ainda mais, o trabalho dos diretores nas unidades da rede municipal e Funec, a partir de 2016", completou. Constituída de 45 questões, a avaliação foi dividida em três blocos: Normas e Legislação, Formação/Gestão Estratégica da Educação, Conhecimentos Políticos e Pedagógicos.
Educadora há 33 anos, a atual diretora da Escola Municipal Ricardo Braz Gomes Barreto, no bairro Perobas, Soraya Ferreira, aprovou a iniciativa da Seduc na adoção da avaliação. "Com essa característica de ser diagnóstica considero válida a iniciativa. É muito importante que a secretaria conheça as defasagens para que possa intervir e contribuir na busca da melhoria da atuação dos dirigentes", concluiu a diretora, que mesmo não tendo decidido se vai disputar a reeleição, fez a prova no último sábado.
O vice-diretor na Escola Municipal Prefeito Luiz da Cunha, na Sede, Rogério Marques de Campos, que também se submeteu à avaliação, considerou positiva a exigência da Seduc pela certificação. "É uma oportunidade para ampliar nossos conhecimentos, o que certamente vai nos ajudar no dia a dia. O cargo de direção exige tato e manejo, principalmente, porque lidamos o tempo todo com pessoas", ressaltou o educador com formação em Educação Física e concursado na rede há 14 anos.
Embora inédito em Contagem, o processo de avaliação de postulantes a cargos de direção já é realizado em outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), de Minas Gerais e de outros estados, além do Distrito Federal.

Prefeitura oferta curso de Português para haitianos

Cerca de 25 pessoas vão participar do curso, ofertado pela Seduc

Ricardo Lima
Em meio a sonhos de conquista de bons empregos e de dar sequência aos estudos, 25 haitianos que vivem na Região do Petrolândia iniciaram curso de Português como Língua Estrangeira (PLE), ofertado, gratuitamente, pela Prefeitura de Contagem, por meio da Secretaria de Educação (Seduc) em parceria com o Instituto Cultiva.
O objetivo do município é propiciar aos imigrantes o desenvolvimento das habilidades de ler, escrever, falar e ouvir o idioma brasileiro. A aula inaugural, com a entrega de kits escolares a todos os alunos, ocorreu na terça-feira (17/11), na Escola Municipal Isabel Nascimento de Mattos. O curso terá duração de cinco meses, com encontros semanais às terças e quintas, das 19h às 21h.
O coordenador do Departamento de Educação em Ações Afirmativas (Decadi) da Seduc, João Alves, ao dar as boas-vindas aos estudantes haitianos, disse que "Contagem se orgulha de recebê-los e de contribuir para que rompam com as dificuldades decorrentes do idioma. Ainda nesta semana, terá início curso para outra turma de haitianos, na região da Ressaca". Também informou que os alunos estrangeiros receberão, ao final do curso, certificado, expedido pela Seduc, "documento importante para conseguir emprego".
Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Simone Garófalo, explicou que o curso tem uma abordagem comunicativa intercultural, uma vez que não se pode dissociar a língua da cultura. Por isso, ao trabalhar expressões, sempre é possível enriquecer o aprendizado com informações sobre aspectos culturais.
" O contexto de imersão, ou seja, o fato de os haitianos já estarem morando aqui, onde a população fala Português, é um facilitador para o aprendizado", acrescentou a professora, cuja didática agradou os haitianos, no primeiro dia de aula. De maneira descontraída e interativa, eles aprenderam detalhes sobre cumprimentos, pronomes de e a soletrar expressões e nomes.
Nelson Charles, 27, que trabalha como operador e montador numa empresa em Betim, sonha com a possibilidade de elevar a renda e de trazer para o Brasil a mulher e três filhos deixados no Haiti, há um ano e oito meses. Para isso, planeja profissionalizar-se em outra área, o que exige o aprofundamento acerca da língua portuguesa. "Pretendo fazer o curso de mecânica industrial, ouvi dizer que é uma boa profissão", diz Charles, que deixou a sala de aula já motivado para o segundo encontro.
Marie-Carme Jean François, 32, também aposta no aprimoramento do idioma para melhorar as condições de vida no país que a acolheu. "Estou desempregada, acredito que se eu dominar melhor o Português terei mais oportunidades de trabalho", declarou François que há um ano e cinco meses, divide com dois primos conterrâneos aluguel de moradia no Petrolândia.
O estudante Emile Dunan,49, era um dos poucos que não falava quase nada do idioma brasileiro, durante o primeiro dia de aula. "O português é muito difícil, mas com estas aulas espero poder me comunicar melhor", revelou, com a ajuda de um conterrâneo, já em fase mais avançada de domínio da língua.
"Escola sem Fronteiras"
O curso de Português como Língua Estrangeira (PLE), ofertado pela Prefeitura de Contagem, é mais uma ação do "Escola sem Fronteiras", projeto lançado pela Secretaria de Educação (Seduc) para integrar estudantes estrangeiros às escolas, bem como para possibilitar que famílias imigrantes acessem serviços públicos de saúde, trabalho e de assistência social disponibilizados pelo município.
Para facilitar a vida de estudantes haitianos e seus familiares que vivem em Contagem, a Secretaria de Educação tem buscado também criar ações e materiais pedagógicos que dialogam entre as culturas brasileira e haitiana. Além de sensibilizar educadores para recepcionar os imigrantes, bilhetes enviados aos pais haitianos são traduzidos para o crioulo, dialeto falado por quase toda população do Haiti. A tradução dos bilhetes é feita por um pedagogo haitiano, contratado pela prefeitura para aprimorar a integração com os novos moradores contagenses, provenientes do país caribenho.

Contagem debate igualdade racial e imigração no mês da Consciência Negra

Evento reuniu mais de 200 pessoas na PUC Contagem

Jhonatan Otero
Dentro das comemorações do Mês da Consciência Negra, a prefeitura promoveu o I Seminário Metropolitano de Igualdade Racial e Imigração do Município de Contagem. Organizado pelas secretarias de Educação e de Direitos Humanos, via Departamento de Educação em Ações Afirmativas (Decadi) e Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial (CPIR). O evento reuniu mais de 200 pessoas, dentre educadores e militantes na causa da diversidade. O seminário ocorreu no auditório da PUC Contagem, na tarde do dia 13/11 e durante todo o dia de sábado (14/11).
Na abertura do encontro, o secretário de Educação, professor Ramon, lembrou que um governo deve ser avaliado não apenas por "obras físicas, como pontes e viadutos", mas também por "suas ações e proposições". No entanto, segundo ele, a construção de uma cidade mais humana e acolhedora independe do poder vigente. "O ser humano é o grande agente das transformações. O governo é apenas uma porta, uma fresta, porque somos nós que fazemos a ação política virar concretude, o que justifica reflexões para celebrar a diversidade ", concluiu.
Representando o secretário estadual de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, o subsecretário Leonardo Nader, falou sobre imigração, temática que ocupou os debates no primeiro dia do encontro. Ele destacou que, embora a história da origem e do desenvolvimento do Brasil esteja ligada à figura de imigrantes, a política migratória ainda se encontra em construção no país.
De acordo com Nader, devido ao número expressivo de estrangeiros que tem chegado ao Brasil, o governo de Minas, criou o Comitê Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo (Comitrate). "A proposta do Comitê é atender necessidades específicas dessas pessoas que chegam ao Estado. Imigração também é uma questão de direitos humanos. Por isso, não vamos nos omitir".
Integrante do Grupo de Pesquisa e Extensão de Direitos Sociais e Migração da PUC Minas, coordenado por Durval Fernandes, a professora Maria da Consolação Gomes de Castro, também participou dos debates . Segundo ela, dos mais de 50 mil haitianos que desembarcaram no Brasil, nos últimos cinco anos, cerca de 4 mil vivem na Região Metropolitana de Belo Horizonte, principalmente, nas cidades de Contagem e Esmeraldas. A escolha pelos dois municípios se deve ao fato de já existir uma comunidade de haitianos na região, além de outras questões relacionadas ao custo de vida, como valor do aluguel e maior oferta de vagas de emprego.
Ações da Educação
O coordenador do Decadi, João Alves de Souza Júnior, informou que a Prefeitura de Contagem está atenta a esta movimentação de estrangeiros no município e para a necessidade de construção de políticas públicas voltadas para imigrantes . "O "Escola sem Fronteiras", projeto recém-lançado pela Secretaria de Educação (Seduc) atua para integrar estudantes nas escolas, bem como para possibilitar que famílias imigrantes acessem serviços públicos de saúde, trabalho e de assistência social disponibilizados pelo município".
Nesta terça-feira (17/11), a Seduc inicia o curso de Português como Língua Estrangeira, destinado aos imigrantes haitianos. Inicialmente, as aulas serão ministradas nas regionais Petrolândia e Ressaca.
A interlocução entre Seduc e Sine viabilizou encaminhamentos de haitianos a vagas no mercado de trabalho e de mães de estudantes haitianos a cursos de qualificação.
O "Escola sem Fronteiras" é mais uma ação do "Negro em Foco" , programa institucionalizado na Rede Municipal de Ensino, desde 2006, cujo objetivo é efetivar uma pedagogia antirracista e políticas de promoção da igualdade racial na educação. Sob a responsabilidade do Departamento de Ações Afirmativas, o programa é implementado por meio da formação de educadores, ações intersetoriais e articulação com os movimentos sociais.
Também neste semestre, parceria entre a prefeitura e a CeasaMinas possibilitou a reabertura do  Projeto Telecentro. A princípio, 60 pessoas  estão  sendo beneficiadas com as aulas de informática. A maioria é constituída de trabalhadores como carregadores e ajudantes, com destaque para imigrantes haitianos que trabalham no entreposto.
Igualdade Racial
Para a coordenadora da Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial (CPIR), Maria Zenó Soares, assim como na sexta-feira, os debates do sábado (14/11) foram enriquecedores para os conferencistas reunidos no I Seminário Metropolitano de Igualdade Racial e Imigração do Município de Contagem.
O dia foi destinado à reflexões sobre a Política de Promoção de Igualdade Racial, com  foco no racismo institucional, negro e mídia e a saúde da população negra.
A representante do Movimento Negro Unificado, Ângela Gomes, enfatizou sobre o racismo institucional. Segundo ela, o racismo institucional é desencadeado quando as instituições públicas ou privadas de um país, atuam de forma diferenciada em relação a determinados grupos em função de suas características físicas ou culturais.